Postado 26 de agosto de 2025 em Destaques por GrandeAdega
Apesar de parentes, as duas uvas dão origem a vinhos bem distintos. Entenda suas semelhanças, diferenças e como se complementam!
Toda família tem aquele primo bem-sucedido que chama atenção: concursado, chega no churrasco de carro novo, fala três idiomas e parece ter resposta para tudo. No mundo do vinho, esse papel cabe à Cabernet Sauvignon, a uva mais plantada e conhecida do planeta. Mas imagine pertencer à família das Cabernets, onde não há apenas um primo brilhante, e sim uma árvore genealógica inteira cheia de celebridades. Ao lado da filha, por exemplo, está a mãe Cabernet Franc, muito elegante e refinada. E, diferente das reuniões de família cheias de intrigas, aqui todo mundo se dá bem na taça.
Popularmente chamada de rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon não nasceu do nada. Ela é fruto de um cruzamento natural entre a Cabernet Franc (a mãe) e a Sauvignon Blanc (para efeitos didáticos, o “pai”) que aconteceu na região de Bordeaux, no século XVII. Da mãe, herdou estrutura, taninos firmes e potencial de guarda. Do pai, ganhou a acidez vibrante e notas herbáceas. Juntas, criaram uma uva realmente especial: poderosa, versátil e capaz de traduzir terroirs como poucas.
Mas e a Cabernet Franc? Longe de ficar na sombra, ela brilha com uma personalidade própria. Enquanto a filha é mais extrovertida (aromas de frutas escuras maduras, chocolate, taninos marcantes), a mãe é mais introspectiva, com notas de páprica, pimentão-verde, violeta e muita elegância. É claro, porém, que essas características mudam de acordo com o terroir onde são produzidas e não são absolutas.
A Cabernet Sauvignon é famosa por sua potência, estrutura e capacidade de envelhecimento. Originária da região de Bordeaux, ela se espalhou pelo mundo, mostrando adaptabilidade aos mais diversos terroirs. Quando falamos de expressão aromática, destaca-se por notas de cassis, cereja negra e toques herbáceos, enquanto o paladar é marcado por taninos firmes, acidez equilibrada e um corpo que permite harmonizações mais robustas, de carnes vermelhas a de caça.
Produzido com uvas selecionadas de Luján de Cuyo e do Vale do Uco, em Mendoza, é um vinho que exemplifica bem as características da Cabernet Sauvignon. Amadurece 12 meses em barricas de carvalho, apresentando aromas de frutas vermelhas maduras, notas de menta e chocolate, com taninos redondos e maduros.
A Cabernet Franc, por outro lado, caracteriza-se por ser mais leve, aromática e apresentar taninos mais delicados, com notas florais, de pimentão-vermelho e especiarias. A acidez torna seus vinhos vibrantes e frescos, perfeitos tanto para consumo imediato quanto para envelhecimento.
Um rótulo que mostra toda a personalidade da uva, também combinando os terroirs de Luján de Cuyo e Vale do Uco. Envelhecido por 12 meses em barrica, apresenta aromas complexos de páprica e pimentão-vermelho, enquanto o paladar é frutado, vibrante e com sutis toques herbáceos, refletindo sua estrutura elegante e taninos firmes.
A família Cabernet é um exemplo raro de família que se dá muito bem. Quando vinificadas em conjunto, as Cabernets resultam em vinhos muito equilibrados, elegantes e complexos. Mais que isso, também dão espaço para uvas de fora, desde Merlot até Malbec. Quer exemplos?
O Tabali Transversal Mezcla de Tintos, do Vale do Limarí, no Chile, combina Cabernet Franc (30%), Cabernet Sauvignon (15%), Malbec e Syrah, trazendo aromas vibrantes de frutas escuras e especiarias, com taninos macios e persistência longa.
No caso do Norton Gernot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon se juntam à Malbec para criar um vinho estruturado, elegante, com notas de chocolate, couro e tabaco, envelhecido por 16 meses em barricas e mais 12 meses em adega. O resultado é um vinho que evidencia a complementaridade entre mãe e filha: força e elegância convivendo em perfeita harmonia.
Na tradição clássica de Bordeaux, vinhos como o Château Gloria Saint-Julien AOP 2018 mostram o melhor da união entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot. A Cabernet Franc aporta delicadeza e aromas florais, enquanto a Cabernet Sauvignon dá corpo e estrutura. Um grande rótulo, seguindo o famoso corte bordalês.